Vila Cova de Perrinho - A origem

16-10-2023

O estudo toponímico continua a ser, nos dias hoje, um enorme desafio para os investigadores. O nome dado a algumas regiões deriva de diversos fatores e condicionantes. Debrucemo-nos agora, sobre uma breve explicação da origem do nome "Vila Cova de Perrinho". 

"Perrinho" poderia ter surgido da influência galega, pois esta está bem presente na toponímia do norte de Portugal. Como é de conhecimento geral, a língua portuguesa nasce do galaico-português, língua falada no Reino da Galiza e em quase todo o norte de Portugal, por sua vez, o galego deriva do latim, dado a presença do Império Romano durante séculos na Península Ibérica. 

Ao analisarmos a influência galega na toponímia portuguesa, apercebemo-nos da existência na região da Galiza de um nome semelhante, "Porriño". Neste caso, a origem do nome teve origem no cognome do Rei Grovari, o Pueril (do latim Puerillis). Não havendo qualquer ligação deste rei com a região de Vila Cova de Perrinho não se pode afirmar que a origem do nome Perrinho sofre dessa mesma influência. 

As hipóteses do nome "Perrinho" são diversas, mas poderá estar ligada ao nome dado aos judeus e muçulmanos durante a Idade Média. Durante este período, os judeus e os mouros eram tratados como "perros", uma denominação insultuosa. 

De facto, quase toda a Península Ibérica, desde o século VIII até ao século XV, esteve sob influência muçulmana. A expulsão do muçulmanos do território português concluiu-se com Dom Afonso IV, o Bravo, na Batalha do Salado em 1340. A região do norte de Portugal, não escapou à presença e influência árabe, tendo sido o Conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques o responsável pela reconquista da região aos muçulmanos. 

Os muçulmanos estabeleceram-se na Península Ibérica a partir do século VIII. A conquista árabe aos cristãos na região do Entre Douro-e-Vouga foi feita pela mão de Almançor, governante do Califado de Córdova. Estabeleceu assim na região diversas comunidades árabes, incluindo Vila Cova de Perrinho. Assim, a pequena aldeia de Vila Cova de Perrinho terá ficado sob influência árabe durante aproximadamente 150 anos. 

Almançor, retrato de Zurbarán (1598-1664)
Almançor, retrato de Zurbarán (1598-1664)

Com o processo de Reconquista Cristã, Vila Cova de Perrinho, situada a norte do rio Vouga terá sido reconquistada por volta de 1102 na célebre Batalha de Arouca, travada nos campos de Santa Eulália, que defrontou o Conde D. Henrique e o rei muçulmano Echa Martim. A reconquista não significou a sua expulsão, muitos deles continuaram a habitar a região, sendo muitos deles obrigados a converterem-se ao catolicismo, foi o que aconteceu com Echa Martim, que tendo sido capturado veio a tornar-se senhor de Lamego. 

Campanhas de Almançor na Península Ibérica
Campanhas de Almançor na Península Ibérica

Contudo, alguns muçulmanos converteram-se ao cristianismo, mas de facto, nas suas aldeias continuaram a professar a religião muçulmana. Os cristãos aquando da conquista da região, atribuíram a Vila Cova de Perrinho o nome de  "Villae Perriños", ou literalmente "Vila dos Muçulmanos".  Com a evolução da língua portuguesa, chegou aos dias de hoje o nome de "Vila Cova de Perrinho". 

A aldeia teria este nome devido à permanência de árabes no local que continuaram a habitar a região, já com o domínio cristão e com a implantação do Reino de Portugal. Isto pode explicar a tardia construção de um templo católico na localidade. Há registos de população a habitar a região desde os primórdios da cristianização, mas foi só no século XVIII que se construiu a atual igreja, (Igreja de São João Baptista) não havendo registo de outra anteriormente.

As terras da região de Vila Cova de Perrinho durante o século XII foram referenciadas como moeda de troca entre Gonçalo Soares e os Condes da Feira. O rei D. João III, em 1527 considerou Vila Cova de Perrinho como "terra de honra", ou seja, isenta de impostos, dado a sua importância agrícola e comercial para a região. A sua importância comercial deveu-se à forte presença árabe até finais do século XVI.

Retrato de D. João III atribuído a Cristóvão Lopes, baseado em um original de 1552 pintado por Anthonis Mor

O nome de "Cova" terá mesmo surgido dado a orografia do terreno. Vila Cova de Perrinho está encaixada entre duas serras, formando um vale profundo, junto ao rio Trancoso. O nome de Vila Cova de Perrinho já só aparece desta forma nas memórias paroquiais do século XVIII, tendo sido acrescentado ao nome primitivo de "Villa Perriños". 




Associação Cultural, Desportiva e Recreativa "A Primavera"

Texto escrito por: Ricardo Almeida 


Antiga Escola Primária de Vila Cova de Perrinho (Porta Norte), 3730-627 Vila Cova de Perrinho - Vale de cambra
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